Tuesday, June 20, 2006

Um grito ecoa no espaço: "SPAAAACE GHOOOST!" Mas como é possível escutar um grito no espaço se não existe ar lá?


Na década de 1960, um desenhista norte-americano esteve envolvido na criação de vários super-heróis que fizeram parte da infância de muita gente. Não, desta vez, não estou falando de Jack Kirby. Estou falando de Alex Toth, falecido recentemente, que trabalhou muitos anos como designer de personagens para os desenhos animados da Hanna-Barbera. Entre os heróis que Toth criou o visual estão: Homem-Pássaro, Herculóides, Poderoso Mightor e... Space Ghost. A Panini acabou de lançar o primeiro número da minissérie em quadrinhos Space Ghost, baseada na famosa série de desenhos animados surgida em 1966, mas cujas reprises na TV aberta foram assistidas por quem foi criança nas décadas de 1970 e de 1980. A exemplo de outros heróis da Hanna-Barbera, jamais foi mostrada no desenho a origem do herói. Aliás, Space Ghost era tão misterioso que ele jamais havia aparecido sem a máscara. Na minissérie em quadrinhos, Joe Kelly criou uma origem para o herói e o artista Ariel Olivetti mostra pela primeira vez o rosto por trás da máscara. A arte de pintada de Olivetti não tem o mesmo charme da arte de Toth e nem chega ao mesmo nível das pinturas de Alex Ross, que produziu as belísimas capas da minissérie. Não estou dizendo que Olivetti é um mau artista. Pelo contrário, ele é um ótimo artista.Mas quando pensamos numa minissérie estrelada por um herói criado por Alex Toth e com capas de Alex Ross, as comparações são inevitáveis. Mas é como comparar um ótimo jogador de futebol a Pelé... O ponto alto de Olivetti são os alienígenas que ele desenhou para a história, que chegam a lembrar os quadrinhos da Legião Alien, publicados na saudosa revista Epic Marvel, que a Abril lançou em meados dos anos 1980. A história é cheia de clichês, mas é divertida. Aliás, clichês são algo bem apropriado para um herói tão retrõ quanto é Space-Ghost. O problema é que cada fã devia ter imaginado sua própria versão da origem do "Fantasma do espaço". Por falar em fantasma, o Space-Ghost lembrava o Fantasma (Phantom) de Lee Falk. Talvez, tivesse sido mais interessante se a minissérie jamais tivesse mostrado o rosto do herói sem a máscara, mostrando-o apenas de costas ou oculto pelas sombras. Ou então, mesmo que mostrasse o rosto, não mostrasse os olhos, cobrindo-os com óculos escuros ou coisa parecida. No geral, o gibi funciona bem. O único problema é que o último quadrinho do primeiro capítulo mostra o capuz do herói um pouco diferente do visual clássico, deixando-o mais parecido com o Hooded Justice dos Minutemen.

Túlio Vilela, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de “Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula” (Editora Contexto).