Monday, December 31, 2007

CRIANÇAS AINDA GOSTAM DE QUADRINHOS

Cena da primeira temporada de Lost


“As crianças de hoje não curtem quadrinhos, preferem videogames, ouvir música no MP3”. Quantas vezes já não ouvi ou li isso? Ainda existem crianças e adolescentes que curtem quadrinhos. E esse número poderia ser maior.
Vou dar como exemplo a escola pública onde leciono. Nela estudam crianças e adolescentes de diferentes classes sociais. Algumas são bem carentes no que se refere ao aspecto socioeconômico enquanto outras são de lares bem privilegiados. A maioria possui celular e videogame. Nem todos têm Internet em casa.Mesmo nessa escola, que fica situada num bairro onde não existe uma banca de jornal decente sequer (pois na cidade onde resido, todas as bancas de jornal bem arrumadas e com oferta de tudo quanto é tipo de revista estão no centro), já vi alunos meus trazendo revistas em quadrinhos para a escola: mangás (Shaman King,One Piece e Naruto), gibis da Panini (Homem-Aranha e até Thundercats entre outros)e da turma da Mônica (que agora também é da Panini).
Além disso, os álbuns de Asterix fazem parte do acervo da biblioteca da escola e estão entre os livros que os alunos mais pegam emprestados. Um aluno meu, que detesta ler, teve que escolher um livro para ler na aula de Língua Portuguesa: ele escolheu o Na Prisão, mangá da Conrad,que também faz parte da nossa pequena mas significativa biblioteca. Ele adorou!
Nas minhas aulas de História, já utilizei muitos quadrinhos com aventuras Disney (tanto aquelas escritas e desenhadas pelo Carl Barks quanto as criadas pelo Don Rosa e aquelas produzidas na Itália). A maioria dos meus alunos de quinta e sexta séries adorou. Vários chegaram até a me perguntar: “Professor, onde você consegue essas revistinhas?”É impressionante o número de crianças que vejo gostarem de quadrinhos, que gostariam de comprar quadrinhos, mas que jamais visitaram um simples banca de jornal na vida. São crianças que não possuem o hábito da leitura,porque seus pais também não o possuem. Ou que gostariam de adquirir revistas, mas não possuem dinheiro para comprar. A solução para alguns desses é conseguir emprestado na biblioteca da escola ou ir a uma banca que venda ou troque gibis usados. Um dos meus alunos começou a colecionar Tio Patinhas depois que apresentei quadrinhos Disney na escola.
O dono de um sebo que eu freqüento na região do ABC me disse que a procura por revistas em quadrinhos no estabelecimento dele é grande (não duvido, pois a loja dele foi ampliada e sempre tem gente comprando). Ele comentou que nos períodos de férias escolares aumenta o número de crianças que entram no sebo para comprar ou trocar quadrinhos, em geral mangás ou gibis do Maurício de Sousa.
O que estou escrevendo está muito longe de ser uma pesquisa de mercado, feita com metodologia. No entanto creio que os exemplos são significativos, pois citei como exemplos locais que não são os grandes centros e nem bancas ou lojas das capitais. Peguei como exemplo crianças de uma escola pública (onde estão matriculadas crianças com perfis mais diversificados do que numa escola particular onde estudam somente filhos da classe média alta) e um sebo popular numa cidade vizinha.
As crianças de hoje gostam de quadrinhos e outras mais podem gostar. Basta apresentar a elas. Doe aquele gibi que você não quer mais para a biblioteca de uma escola ou dê de presente para seu sobrinho ou irmãozinho mais novo da sua namorada. Se tiver filhos, visite a banca de jornais com ele.
Precisamos de publicações com preços mais baixos, mais acessíveis para a maioria da população, mas sem perda na qualidade. Projeto gráfico e bom acabamento são indispensáveis para atrair o público, não se pode subestimar a inteligência dos jovens leitores. Não adianta nada baixar o preço de capa e colocar publicações com visual pobre e papel ruim. Quando o produto é ruim, o público não quer nem “de graça”.

Foto antiga de garotos ingleses lendo a última edição de uma publicação em quadrinhos

Saturday, December 01, 2007

QUADRINHOS BRASILEIROS PRECISAM SER CHATOS?


No blog da Pixel, o editor lançou uma discussão sobre quadrinhos nacionais. Ele diz que encontra muita gente querendo publicar seus próprios quadrinhos, mas pouca gente disposta a comprar quadrinhos nacionais e pergunta aos internautas quais foram os últimos quadrinhos brasileiros que eles compraram. A discussão pode ser encontrada no link a seguir:
http://pixelquadrinhos.com.br/blog/?p=321
Os últimos quadrinhos nacionais que comprei foram num sebo: edições de Chiclete com Banana, Circo, Piratas do Tietê, Níquel Náusea etc. Comprei coisas que já havia lido quando ainda estava cursando o ginásio. Embora rotulados de "underground" ou "alternativos" esses títulos eram populares(alguns mais, outros menos), faziam o público rir. Acho que esse é o problema de muitos quadrinhos nacionais modernos: os caras fazem algo "cabeça demais", meio pedante, parecido com algumas coisas que a revista Comics Journal adora elogiar (tipo Love e Rockets que é publicado pela própria Fantagraphics, a editora que publica o Comics Journal).
Se os desenhos forem chamativos e a história for divertida, o público vai gostar, independentemente da nacionalidade. Estou de saco cheio de ver revista de quadrinhos nacionais em que o assunto principal não são as histórias e nem os personagens, mas enormes manifestos sobre as duras condições do mercado e a luta dos quadrinhos nacionais. O que falta discutir é quais seriam as melhores formas de distribuir esse material, estratégias de marketing etc. Falta aparecer nos quadrinhos nacionais um equivalente ao que Tropa de Elite significou para o cinema brasileiro.