MOMENTO NOSTALGIA: GIBIS DO HOMEM-ARANHA PELA RGE
Os primeiros gibis de super-heróis que tive foram exemplares das revistas Homem-Aranha e Super-Heróis Marvel que eram publicados pela RGE (Rio Gráfica e Editora, atual Editora Globo)publicados em 1981. Ambas traziam mensalmente aventuras do aracnídeo: a primeira trazia a tradução de histórias publicadas originalmente na revista Amazing Spider-Man e a segunda trazia a tradução de histórias publicadas originalmente na revista Peter Parker, The Amazing Spider-Man. Naquela época, eu já gostava de gibis, mas os super-heróis estavam longe de ser os meus favoritos. O Homem-Aranha era uma exceção, gostava do bom humor dele e já o conhecia das reprises da antiga série de desenhos-animados que traziam a famosa música tema regravada tempos depois pelos Ramones. Os outros heróis eu achava meio babacas ou chatos por causa do que eu via em desenhos-animados do tipo Superamigos. Preferia ler os gibis do Maurício de Sousa, que meu pai comprava quase todos os meses para mim. As histórias eram engraçadas e não tinham aquela coisa de continuar na próxima edição. Naquela época, com inflação alta (os preços de capa dos gibis aumentavam todos os meses) e dependendo de dinheiro de pai para comprar (que precisava gastar em coisas mais importantes como aluguel e comida) não era fácil acompanhar os gibis de heróis com aquelas histórias em continuação e que muitas vezes estavam interligadas com outras publicadas em outras revistas.
Aranha na TV e nos quadrinhos
Sem contar que, naquele ano, a Globo começou a exibir aquele seriado meia-boca do Aranha interpretado pelo Nicholas Hammond (mais recentemente, esse ator apareceu fazendo uma ponta num episódio daquele seriado O mundo perdido). O seriado era muito ruim, mas como naquela época eram raros os filmes de super-heróis, tinha lá o seu charme ver o Aranha na série escalando os edifícios (principalmente quando você tem sete anos de idade e adora ficar brincando de Homem-Aranha se pendurando pelo espelho das portas da casa). O legal era que as vozes do Aranha e do Jameson na série eram feitas pelos mesmos dubladores dos desenhos-animados (o cara que fazia a voz do Parker era o mesmo que dublava o Robin nos Superamigos) e a Globo aproveitava para anunciar os gibis da RGE nos episódios.
O primeiro gibi de super-herói que li: Super-Heróis Marvel 27
Quanto ao Aranha, o primeiro gibi dele que tive em casa era um que trazia uma aventura dele desenhada pelo Sal Buscema (acho que o roteirista era o Bill Mantlo). Nessa história, o Aranha enfrentava um vilão chamado Mestre da Luz, um cara que usava um traje especial que convertia luz em matéria sólida, que o cara usava para matar. Foi aí que descobri uma diferença entre os supervilões nos gibis e os mostrados em desenhos-animados: eles matavam, eram maus mesmo! Quando a gente tem uns sete ou oito anos, esse tipo de coisa impressiona e deveria continuar impressionando, mas a exposição excessiva a cenas de violência no cinema e na televisão (inclusive noticiários) acabam banalizando a vida humana (algo que deveria ser considerado sagrado) e nos tornando insensíveis.
Seção de cartas da RGE: hilariante!
A mesma revista trazia uma história tapa-buraco em que apareciam o Coisa do Quarteto-Fantástico (naquela época, “Os Quatro Fantásticos”, por causa do desenho produzido pela Hanna-Barbera, e que era a mesma tradução usada nos gibis da RGE]. Outra coisa que me impressionava eram os créditos. Foi a primeira vez que vi a famosa chamada “Stan Lee apresenta”. A RGE deve ter sido a primeira editora a creditar nas histórias os editores originais das histórias, como faz hoje a Panini. A diferença era que ela colocava como “supervisão geral”. Além disso, a não ser no expediente da revista, a RGE não creditava nem os editores brasileiros e nem os tradutores. Nessa mesma revista tinha uma seção de cartas que era muito engraçada: os personagens da Marvel respondiam às cartas dos leitores! Aparecia a carta do leitor e a resposta vinha dentro de um balão enorme, como se o próprio personagem estivesse mesmo respondendo. Naquela edição, havia cartas sendo respondidas pelo Homem-Aranha, Wolverine,Demolidor, J. Jonah Jameson e um tal de “Editor Misterioso”, o rosto era uma sombra de chapéu (muito engraçado de tão ridículo). Mas tem uma carta que não me esqueço: tinha um leitor (não dizia a idade) que pedia para publicarem uma história com um herói que ele havia criado, um tal de “Raio Azul” (até que achei o nome legal). Aí, em vez dos editores publicarem uma resposta sincera do tipo “Sinto muito, mas não podemos publicar sua história porque apenas publicamos apenas material estrangeiro ou licenciado” , quem aparecia respondendo era o Demolidor (!!!) dizendo que o leitor devia se dedicar mais na elaboração de novas histórias com o Raio Azul, que quando ele melhorasse o trabalho dele,eles avaliariam etc. Será que o leitor que escreveu essa carta virou fanzineiro? Será que essa carta publicada o estimulou a seguir uma carreira nos quadrinhos?
Recruta Zero entrevistando a Mulher-Hulk?
Outro detalhe: coisa que pouca gente comenta quando fala da história dos quadrinhos Marvel no Brasil. A RGE anunciava as revistas com os heróis em outros gibis publicados pela editora. Na revista Recruta Zero, que era um dos títulos mais vendidos na época, tinha uma seção de notícias intitulada “Jornal do quartel” ou coisa parecida em que o Zero era creditado como “repórter”. Numa dessas, o Zero aparecia entrevistando a Mulher-Hulk, com ela explicando que recebeu uma transfusão de sangue do Bruce Banner e blá-blá-blá-blá. Era, na verdade, uma forma que os editores da revista usaram para anunciar o Almanaque Premiere Marvel que também trazia histórias do Cavaleiro da Lua (na época, chamado de “Cavaleiro de Prata”) e do Rom. Já pensou se a Panini resolver fazer coisa parecida para promover algumas de suas revistas: imagine sair publicada uma matéria na revista do Cebolinha em que ele apareça “entlevistando” os X-Men ou a Liga da Justiça (entrevistar o Justiceiro seria o “fim da picada” em gibi infantil).Futuramente postarei outros textos nostálgicos como este.
7 Comments:
Legal que você voltou a postar com freqüência, Túlio. Seus textos são sempre interessantes; até indiquei uma vez o texto "Mauricio de Sousa: o Disney Brasileiro?", que achei genial.
Acho que poucas vezes li algo de heróis Marvel da RGE, acho que só folheei em sebos, mas achei muito engraçada a seção de cartas respondida pelos heróis que você citou, não me lembrava de ter visto. E o marketing para divulgar as outras revistas da editora também achei sensacional (Recruta Zero entrevistando Mulher-Hulk! Há algo mais surreal?).
Por pouco eu pegava essa fase. Minha primeira HQ de heróis foi Grandes Heróis Marvel 1, de 1983, mas já da Editora Abril! Foi daí que me viciei até hoje!
Abraços,
Renato.
Oi, Renato!
Legal que vc postou um comentário! Como sou professor, encontro mais tempo (e energia) para postar na época das férias escolares.
Esse "Grandes Heróis Marvel" que vc mencionou foi um dos primeiros gibis de heróis pela Abril que eu tive em casa. É aquela edição que traz a história da origem do Surfista Prateado desenhada pelo John Buscema.
A propósito, muito obrigado por ter indicado meu texto.
Abração e apareça sempre!
Bom, sou um tanto mais novo, meus primeiros gibis foram lá pros idos de 1997, com meus 10 anos.
Oi, Hiroshi!
Obrigado por ter comentado. Visitei o seu blog e tem matérias interessantes lá. Legal saber que você também já colaborou no Fanboy.
Quando você tinha dez anos e estava começando a acompanhar quadrinhos, os editores brasileiros já diziam que a garotada da SUA geração não estava interessada em quadrinhos, que os leitores eram apenas o pessoal da minha geração e da anterior. Prova que eles estavam errados! Novos leitores surgiram e outros surgirão.
1997? Nessa época ainda saía a Wizard na versão publicada pela Globo e editada pelo Leandro Luigi Del Manto? Era muito boa.
Abração e volte sempre.
as melhores historias da marvel pra mim sem a menor sombra de duvida foram publicadas pela rge e abril bons tempos aqueles
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