Saturday, March 01, 2008

ENTREVISTA COM ANDRÉ TORAL

Ultimamente ando meio sem tempo para postar neste blog. Em primeiro lugar, por causa da volta às aulas. Trabalho numa escola pública,leciono História para oito classes do Ensino Fundamental. Além disso, me dedico a outras atividades como freelancer: ajudo na elaboração de atividades para livros didáticos, escrevo artigos para o Lição de Casa do UOL etc.
Hoje vou postar as páginas da primeira entrevista que fiz com um autor de quadrinhos, no caso, o roteirista, desenhista e antropólogo André Toral. Esta entrevista foi publicada originalmente no número 11 da revista Comix, produzida pelo Estúdio Ópera Graphica para a Editora Escala. O texto introdutório foi feito pelo editor, não é de minha autoria. Eu jamais escreveria algo como “diferente do que diziam seus livros escolares, a Guerra do Paraguai existiu mesmo”. Não sei de nenhum livro escolar que diga que a Guerra do Paraguai tenha sido ficção. Se existe, deve ter sido reprovado pelos avaliadores do MEC.
Esta entrevista foi feita no final de 1999 e publicada no início de 2000. Foi feita no próprio estúdio do Toral. Lembro-me que na ocasião trouxe um daqueles gravadores fabricados pela Philips no início dos anos 1980. Esse gravador tinha sido do meu irmão mais velho. Deu uma trabalheira danada pra fazer a transcrição. O arquivo original com o texto se perdeu. Foi gravado em um disquete que não tenho mais.Depois dessa entrevista com o Toral, fiz uma com o Lourenço Mutarelli, que permanece inédita. Mas esse é assunto para outro post...


Wednesday, January 30, 2008

CHICUTA: UM DESENHISTA BRASILEIRO


Existem muitos bons desenhistas brasileiros neste Brasil. Vários deles já tiveram quadrinhos veiculados em publicações de curta duração. A má distribuição e outras dificuldades da realidade brasileira fizeram com que esses artistas muitas vezes não conseguissem o reconhecimento merecido. Sem falar nos valores ridículos que são pagos aos desenhistas que trabalham para as editoras brasileiras (isto é , quando os desenhistas recebem pelos trabalhos deles ). Por isso,hoje vou aproveitar para divulgar o trabalho do desenhista José Carlos Chicuta ou simplesmente “Chicuta” como ele assina seus trabalhos. Em parceria com o roteirista Dario Chaves (que já trabalhou na Gibiteca Henfil de São Paulo e que hoje é um dos editores da Opera Graphica), Chicuta criou Dálgor, um herói de ficção científica cuja primeira aventura foi publicada no início da década de 1990 em um dos números do Almanaque Phenix, lançado pela extinta editora Phenix, de propriedade da dupla Tony Fernandes e Wanderley Felipe. o herói faria nova aparição no primeiro número da revista Nova Geração, publicado em 1993 pela Editora Vidente. A última aparição do herói foi em 2002 pela revista Graphic Talents, uma tentativa da Editora Escala em firmar no mercado quadrinhos inéditos criados no Brasil.
Atualmente, Chicuta está produzindo ilustrações para campanhas publicitárias. Comparando os trabalhos mais recentes de Chicuta com os seus primeiros desenhos publicados é visível a evolução do trabalho desse artista. No início, Chicuta tinha um estilo bastante calcado no trabalho do desenhista John Byrne (muito popular nos anos 1980 pelos seus trabalhos na Marvel, dentre os quais A Saga da Fênix Negra, e na DC, especialmente a reformulação do Super-Homem feita na época). Hoje sua técnica é bem mais apurada, mesclando referências fotográficas e os mais modernos recursos de computação gráfica com sólidos conhecimentos de desenho da anatomia humana.
Seu talento já era reconhecido entre os colegas que participavam das reuniões do saudoso Conclave de Quadrinhos, grupo de aficionados por quadrinhos que se reunia aos domingos de manhã no Centro Cultural da rua Vergueiro em São Paulo (era uma época diferente em que não existia Internet e informações sobre os bastidores dos quadrinhos eram mais difíceis de serem obtidas). Nessas reuniões, Chicuta trazia seu portfólio, que era então visto e admirado pelos colegas. Reza a lenda que o Conclave foi fundado pelo Jotapê, o famoso tradutor de quadrinhos. Entre os vários membros do Conclave, estavam Dario Chaves e o autor deste blog. Quando comecei a participar das reuniões, no hoje distante ano de 1987 (o grupo já existia desde o ano anterior), o Jotapê já não fazia mais parte do grupo, mas aparecia ocasionalmente nas reuniões onde respondia perguntas sobre os cortes que a Abril fazia quando publicava os quadrinhos Marvel/DC em formatinho. O Chicuta chegou a produzir a capa e ilustrações internas para um fanzine produzido pelo grupo, o OINCQ (Órgão Informativo de Quadrinhos do Conclave).
Para aqueles que querem conhecer mais a respeito do trabalho do Chicuta, recomendo que visitem o blog do artista, que traz várias ilustrações trazidas por ele, inclusive esta que está reproduzida neste post, um retrato da atriz Katte Sackhoff, que interpreta a Starbuck no seriado de TV Battlestar Galáctica:
http://chicuta.blogspot.com/

Sunday, January 27, 2008

AS MAIS BELAS RUIVAS DOS QUADRINHOS E DOS DESENHOS-ANIMADOS

Todo mundo sabe que a beleza feminina sempre inspirou artistas. Quadrinhos e desenhos-animados não foram exceção. Com todo o respeito às loiras e morenas (que também merecem futuros posts dedicados a elas), as ruivas sempre foram grandes musas inspiradoras para os desenhistas (tanto de histórias em quadrinhos quanto de desenhos-animados). Basta ver quantas belas personagens ruivas de destaque podem ser encontradas tanto nos quadrinhos quanto na animação. Por isso, fiz aqui uma lista de dez ruivas que, com certeza, já mexeram com a imaginação de muito garoto por aí. Não as coloquei em ordem de importância, até por que haveria muitos casos de "empate técnico". Uma homenagem ao talento e trabalho dos escritores e desenhistas que deram alma e corpo a essas personagens.


Mary Jane Watson: A namorada de Peter Parker que acabou se tornando a esposa do herói. Sua versão definitiva é a desenhada por John Romita. Aqui vemos um esboço da primeira aparição dela nos quadrinhos. Sinceramente, a atriz mais parecida com a Mary Jane não é a Kirsten Dunst, que interpretou a namorada do herói no cinema, mas a Laura Prepon, que interpreta a Donna no seriado cômico That ´70s Show.
No link a seguir você pode encontrar o trecho de uma entrevista (devidamente acompanhada desenhos e esboços até então inéditos) que John Romita concedeu para a revista Comic Book Artist: http://www.twomorrows.com/comicbookartist/articles/06romita.html


Tee-la: Heroína do desenho do He-Man. O designer de personagens dos desenhos-animados do antigo estúdio da Filmation era muito bom. Incluí aqui também uma ilustração feita pelo Frank Cho. Pelo jeito, o Homem-Fera demonstra mais interesse pelo sexo oposto que o He-Man.

Jean Grey: A mais conhecida integrante do elenco feminino dos X-Men. Já foi desenhada por grandes nomes como Neal Adams, John Byrne e Jim Lee. Nos quadrinhos, ela ama o chato do Ciclope, mas todos os fãs concordam que ela deveria era ficar mesmo é com o Woverine.

Hera Venenosa: Vilã das histórias do Batman. Sua sensualidade é maior ainda quando desenhada por Bruce Timm , designer das séries de desenhos-animados lançados pela Warner.

Daphne: Eterna beldade do desenho do Scooby-Doo. Estou na dúvida se o designer que criou o visual dela foi o Alex Toth ou o Iwao Takamoto. Ambos trabalhavam nos estúdios Hanna-Barbera quando a primeira série de Scooby-Doo foi produzida.

Carrots:Heroína da série Storm, ilustrada pelo britânico Don Lawrence. A Abril chegou a publicar umas dez edições dessa série. Depois saiu outra história num dos números da edição brasileira da Heavy Metal. Tomara que algum editor brasileiro se interesse em voltar a publicar. Mais informações podem ser encontradas no link a seguir:http://www.maniadecolecionador.com.br/storm.htm



Pelisse: Heroína da série francesa Em busca do Pássaro do Tempo, cujo volume A Concha de Ramor chegou a ser lançado aqui pela Martins Fontes. Criação do roteirista Le Tendre e do desenhista Regis Loisel. Uma escultura dessa personagem foi lançada e está sendo vendida pela Internet. Para quem quer ver mais dos belos desenhos de Loisel (que também trabalhou em animações da Disney como Atlantis e Mulan) , sugiro uma visita ao site oficial do artista:
http://www.regisloisel.com/

Laureline: Heroína da série Valérian, um clássico dos quadrinhos franceses de ficção científica. Essa série foi criada pelo roteirista Pierre Christin e pelo desenhista Jean-Claude Mézière. A editora portuguesa Meribérica chegou a lançar traduções dos álbuns franceses. Nos anos 1980, as páginas desses álbuns chegaram a sair em capítulos no Globinho, o suplemento infanto-juvenil do jornal carioca O Globo. Esse suplemento era praticamente um caderno colorido de quadrinhos, igual aqueles que saem nos jornais norte-americanos. Até hoje não entendo por que nenhum jornal de São Paulo teve idéia semelhante. Valérian também ganhou versão em desenho-animado, que pelo jeito, nunca vai ser exibida aqui. Tirando futebol, parece que a gente aqui do Brasil não acompanha quase nada do que é feito na Europa. Uma pena!

Sheera: Mocinha do desenho do Mightor, aquele super-herói pré-histórico daquela série de desenhos produzidos pela Hanna-Barbera nos anos 1960, também desenhada pelo Alex Toth. Dinossauros e homens das cavernas coexistiam anacronicamente nessa série de desenhos-animados. Mais inacreditável ainda era o fato de os homens da tribo do Mightor serem barbeados.


Sonja, a guerreira: Guerreira criada pelo escritor Robert E. Howard e recriada nos quadrinhos por Roy Thomas. O principal desenhista de suas aventuras nos quadrinhos foi Frank Thorne. A Marvel perdeu os direitos da personagem, que atualmente estão com outra editora, a Dynamite. Aliás, por falar nisso, alguém se lembra daquela antiga história desenhada pelo John Byrne, em que o Homem-Aranha encontra a Sonja e se aliam na luta contra um feiticeiro? Aquela história insinuava que Mary Jane e Peter Parker seriam as respectivas reencarnações de Sonja e Conan. A Marvel e a Dynamite co-editaram uma nova versão desse encontro.
Estou pensando em fazer uma lista das dez mais belas vilãs. O que, com certeza, incluiria, novamente, a Hera Venenosa. Aceito sugestões.

Saturday, January 26, 2008

TINA E OS CAÇADORES DE AVENTURA: ATÉ QUE ENFIM! UM GIBI BRASILEIRO DE AVENTURAS QUE PRESTA!


As histórias da turma da Tina e do Rolo sempre foram as minhas favoritas entre os personagens do Maurício de Sousa. São histórias que retratam os brasileiros da maneira como gostamos de nos ver: simpáticos, bem humorados, solidários e sem neuroses. A princípio, não quis comprar a minissérie Tina e os Caçadores de Enigmas, lançada pela Panini. Não quis porque não gostei muito do novo visual do Rolo. O personagem ficou menos engraçado, o deixaram parecido com galã de Malhação. Só que acho que foi birra minha. O novo visual do Rolo não foi feito para me agradar,nem aos "barbados" que babam pela Tina, mas para agradar às leitoras. O que é justo! Afinal, eu gostei muito do novo visual “gordinha sexy” da Pipa e sempre gostei muito do visual que o desenhista Aluir Amâncio, que hoje desenha a DC Comics, havia criado quando reformulou a Tina (que nas primeiras histórias desenhadas pelo Maurício não tinha curvas no corpo e usava óculos fundo-de-garrafa).Por que as leitoras também não podem admirar os personagens masculinos da mesma forma como eu e outros leitores admiramos a beleza das personagens femininas? Esse gibi foi feito para públicos de ambos os sexos.

Acabei comprando o último número dessa minissérie e me arrependi de não ter comprado os anteriores. O roteiro é bem divertido. Diálogos engraçados, gírias bem brasileiras e atuais. Ou seja, embora envolva uma trama de aventura com influências de modelos estrangeiros (desenhos-animados do Scooby-Doo; filmes da Lara Croft etc.), o estilo de humor e de narrativa enxuta que sempre caracterizou as histórias dos Estúdios Maurício de Sousa foram mantidos para alegria dos leitores. O mais interessante é que, finalmente, encontramos um gibi de aventura envolvendo elementos de ficção científica mas ambientado no Brasil sem parecer algo forçado ou um plágio inferior de um quadrinho estrangeiro.

Cada edição traz também um texto sobre referências a filmes ou fatos mencionados no decorrer da história e uma galeria de esboços. Vou correr atrás dos números atrasados. Tomara que novas iniciativas semelhantes a essa surjam (dentro e fora dos Estúdios Maurício de Sousa). Infelizmente, como de praxe, a equipe responsável pelo roteiro e pela arte não foi creditada na história. Para o Maurício, os nomes constarem no expediente é o suficiente. Se ele continuar com essa prática de não creditar os membros da equipe, ele vai perder muita gente boa que vai preferir desenhar para Marvel, DC e companhia.Uma equipe tão competente merece ser mais valorizada e reconhecida.

Thursday, January 24, 2008

MOMENTO NOSTALGIA 2: RGE, ABRIL E EBAL


Esse foi outro gibi que me marcou a infância: Super-Heróis Marvel número 19. Um parente era dono de uma banca de jornal no centro de São Caetano e ganhei esse gibi dele. Me lembro que nesse dia, eu estava acompanhando minha mãe nas compras de supermercado. Era um número atrasado de Super-Heróis Marvel da RGE, porque a banca desse parente vendia também gibis usados.
O gibi inteiro trazia uma aventura completa do Aranha. Foi a primeira vez que vi um gibi do Homem-Aranha onde o herói era chamado durante a aventura inteira simplesmente de "Aranha". Nessa história, o Aranha viajava com uma agente loira da Shield para a Transilvânia. Acho que o objetivo da missão era encontrar uma cura para o Homem-Lobo. O Monstro de Frankenstein também aparecia na história. A capa com uma cena onde o Aranha e o Homem-Lobo se enfrentavam, caindo para fora da janela (quebrada durante a luta) do castelo de Frankenstein é uma lembrança marcante. Gostava das cores berrantes (o vermelho e azul do uniforme do herói e o fundo negro da capa).Gostei muito daquela mistura de super-heróis com terror. Pra completar o clima, a revista trazia no interior um anúncio de outra publicação saudosa da RGE: Krypta.
A RGE era a segunda maior editora de quadrinhos no início dos anos 1980, só perdia para a Abril. Suas revistas eram anunciadas na Rede Globo (quando aparecia banca de jornal em cena de novela global só trazia revista da RGE). Na época, a RGE publicava, além de Krypta e dos heróis Marvel, títulos de personagens da King Features (Fantasma; Mandrake e Recruta Zero); Mortadelo e Salaminho (que na época, só li dois gibis, mas que gostaria de ter lido mais...); quadrinhos infantis brasileiros do Ely Barbosa (Cacá e sua turma; OsIncríveis Amendoins...) e traduções de personagens infantis da Harvey Comics (Riquinho, Bolota, Brotoeja...). De tudo isso, li um pouco. Tinha também uma versão em quadrinhos do Sítio do Pica-Pau Amarelo que ganhava de dez a zero da atual, principalmente nos desenhos.
Uma coisa que eu já percebia na época era que os gibis da Abril tinham um papel de qualidade melhor (RGE e Bloch imprimiam o miolo em papel jornal). A EBAL ainda publicava, mas a distribuição era péssima. Era raro encontrar gibis dela nas bancas da cidade onde eu morava. Algumas bancas traziam,outras não. Acho que essa foi uma das razões de porque os heróis da Marvel ficaram bem mais populares entre os leitores do que os da DC. Na época, a EBAL já estava meio moribunda, mas, nas raras vezes, que os gibis dessa editora chegaram em minhas mãos, dava para perceber que eram especiais: em termos de gibis coloridos, eram os que tinham o melhor papel(um dos primeiros gibis da EBAL que li foi um formatão colorido trazendo o crossover Batman e Hulk). O letreiramento feito com fotocomposição ou letraset também era um diferencial da EBAL. Eles usavam uma fonte em negrito, mas com "caixa alta e baixa" (maiúsculas e minúsculas) e não apenas maiúsculas como ocorre na maioria dos quadrinhos. Alguém sabe qual fonte a EBAL usava para letreirar os quadrinhos nos anos 1980?

Sunday, January 20, 2008

MOMENTO NOSTALGIA: GIBIS DO HOMEM-ARANHA PELA RGE



Os primeiros gibis de super-heróis que tive foram exemplares das revistas Homem-Aranha e Super-Heróis Marvel que eram publicados pela RGE (Rio Gráfica e Editora, atual Editora Globo)publicados em 1981. Ambas traziam mensalmente aventuras do aracnídeo: a primeira trazia a tradução de histórias publicadas originalmente na revista Amazing Spider-Man e a segunda trazia a tradução de histórias publicadas originalmente na revista Peter Parker, The Amazing Spider-Man. Naquela época, eu já gostava de gibis, mas os super-heróis estavam longe de ser os meus favoritos. O Homem-Aranha era uma exceção, gostava do bom humor dele e já o conhecia das reprises da antiga série de desenhos-animados que traziam a famosa música tema regravada tempos depois pelos Ramones. Os outros heróis eu achava meio babacas ou chatos por causa do que eu via em desenhos-animados do tipo Superamigos. Preferia ler os gibis do Maurício de Sousa, que meu pai comprava quase todos os meses para mim. As histórias eram engraçadas e não tinham aquela coisa de continuar na próxima edição. Naquela época, com inflação alta (os preços de capa dos gibis aumentavam todos os meses) e dependendo de dinheiro de pai para comprar (que precisava gastar em coisas mais importantes como aluguel e comida) não era fácil acompanhar os gibis de heróis com aquelas histórias em continuação e que muitas vezes estavam interligadas com outras publicadas em outras revistas.

Aranha na TV e nos quadrinhos
Sem contar que, naquele ano, a Globo começou a exibir aquele seriado meia-boca do Aranha interpretado pelo Nicholas Hammond (mais recentemente, esse ator apareceu fazendo uma ponta num episódio daquele seriado O mundo perdido). O seriado era muito ruim, mas como naquela época eram raros os filmes de super-heróis, tinha lá o seu charme ver o Aranha na série escalando os edifícios (principalmente quando você tem sete anos de idade e adora ficar brincando de Homem-Aranha se pendurando pelo espelho das portas da casa). O legal era que as vozes do Aranha e do Jameson na série eram feitas pelos mesmos dubladores dos desenhos-animados (o cara que fazia a voz do Parker era o mesmo que dublava o Robin nos Superamigos) e a Globo aproveitava para anunciar os gibis da RGE nos episódios.


O primeiro gibi de super-herói que li: Super-Heróis Marvel 27
Quanto ao Aranha, o primeiro gibi dele que tive em casa era um que trazia uma aventura dele desenhada pelo Sal Buscema (acho que o roteirista era o Bill Mantlo). Nessa história, o Aranha enfrentava um vilão chamado Mestre da Luz, um cara que usava um traje especial que convertia luz em matéria sólida, que o cara usava para matar. Foi aí que descobri uma diferença entre os supervilões nos gibis e os mostrados em desenhos-animados: eles matavam, eram maus mesmo! Quando a gente tem uns sete ou oito anos, esse tipo de coisa impressiona e deveria continuar impressionando, mas a exposição excessiva a cenas de violência no cinema e na televisão (inclusive noticiários) acabam banalizando a vida humana (algo que deveria ser considerado sagrado) e nos tornando insensíveis.

Seção de cartas da RGE: hilariante!

A mesma revista trazia uma história tapa-buraco em que apareciam o Coisa do Quarteto-Fantástico (naquela época, “Os Quatro Fantásticos”, por causa do desenho produzido pela Hanna-Barbera, e que era a mesma tradução usada nos gibis da RGE]. Outra coisa que me impressionava eram os créditos. Foi a primeira vez que vi a famosa chamada “Stan Lee apresenta”. A RGE deve ter sido a primeira editora a creditar nas histórias os editores originais das histórias, como faz hoje a Panini. A diferença era que ela colocava como “supervisão geral”. Além disso, a não ser no expediente da revista, a RGE não creditava nem os editores brasileiros e nem os tradutores. Nessa mesma revista tinha uma seção de cartas que era muito engraçada: os personagens da Marvel respondiam às cartas dos leitores! Aparecia a carta do leitor e a resposta vinha dentro de um balão enorme, como se o próprio personagem estivesse mesmo respondendo. Naquela edição, havia cartas sendo respondidas pelo Homem-Aranha, Wolverine,Demolidor, J. Jonah Jameson e um tal de “Editor Misterioso”, o rosto era uma sombra de chapéu (muito engraçado de tão ridículo). Mas tem uma carta que não me esqueço: tinha um leitor (não dizia a idade) que pedia para publicarem uma história com um herói que ele havia criado, um tal de “Raio Azul” (até que achei o nome legal). Aí, em vez dos editores publicarem uma resposta sincera do tipo “Sinto muito, mas não podemos publicar sua história porque apenas publicamos apenas material estrangeiro ou licenciado” , quem aparecia respondendo era o Demolidor (!!!) dizendo que o leitor devia se dedicar mais na elaboração de novas histórias com o Raio Azul, que quando ele melhorasse o trabalho dele,eles avaliariam etc. Será que o leitor que escreveu essa carta virou fanzineiro? Será que essa carta publicada o estimulou a seguir uma carreira nos quadrinhos?

Recruta Zero entrevistando a Mulher-Hulk?

Outro detalhe: coisa que pouca gente comenta quando fala da história dos quadrinhos Marvel no Brasil. A RGE anunciava as revistas com os heróis em outros gibis publicados pela editora. Na revista Recruta Zero, que era um dos títulos mais vendidos na época, tinha uma seção de notícias intitulada “Jornal do quartel” ou coisa parecida em que o Zero era creditado como “repórter”. Numa dessas, o Zero aparecia entrevistando a Mulher-Hulk, com ela explicando que recebeu uma transfusão de sangue do Bruce Banner e blá-blá-blá-blá. Era, na verdade, uma forma que os editores da revista usaram para anunciar o Almanaque Premiere Marvel que também trazia histórias do Cavaleiro da Lua (na época, chamado de “Cavaleiro de Prata”) e do Rom. Já pensou se a Panini resolver fazer coisa parecida para promover algumas de suas revistas: imagine sair publicada uma matéria na revista do Cebolinha em que ele apareça “entlevistando” os X-Men ou a Liga da Justiça (entrevistar o Justiceiro seria o “fim da picada” em gibi infantil).Futuramente postarei outros textos nostálgicos como este.

Monday, December 31, 2007

CRIANÇAS AINDA GOSTAM DE QUADRINHOS

Cena da primeira temporada de Lost


“As crianças de hoje não curtem quadrinhos, preferem videogames, ouvir música no MP3”. Quantas vezes já não ouvi ou li isso? Ainda existem crianças e adolescentes que curtem quadrinhos. E esse número poderia ser maior.
Vou dar como exemplo a escola pública onde leciono. Nela estudam crianças e adolescentes de diferentes classes sociais. Algumas são bem carentes no que se refere ao aspecto socioeconômico enquanto outras são de lares bem privilegiados. A maioria possui celular e videogame. Nem todos têm Internet em casa.Mesmo nessa escola, que fica situada num bairro onde não existe uma banca de jornal decente sequer (pois na cidade onde resido, todas as bancas de jornal bem arrumadas e com oferta de tudo quanto é tipo de revista estão no centro), já vi alunos meus trazendo revistas em quadrinhos para a escola: mangás (Shaman King,One Piece e Naruto), gibis da Panini (Homem-Aranha e até Thundercats entre outros)e da turma da Mônica (que agora também é da Panini).
Além disso, os álbuns de Asterix fazem parte do acervo da biblioteca da escola e estão entre os livros que os alunos mais pegam emprestados. Um aluno meu, que detesta ler, teve que escolher um livro para ler na aula de Língua Portuguesa: ele escolheu o Na Prisão, mangá da Conrad,que também faz parte da nossa pequena mas significativa biblioteca. Ele adorou!
Nas minhas aulas de História, já utilizei muitos quadrinhos com aventuras Disney (tanto aquelas escritas e desenhadas pelo Carl Barks quanto as criadas pelo Don Rosa e aquelas produzidas na Itália). A maioria dos meus alunos de quinta e sexta séries adorou. Vários chegaram até a me perguntar: “Professor, onde você consegue essas revistinhas?”É impressionante o número de crianças que vejo gostarem de quadrinhos, que gostariam de comprar quadrinhos, mas que jamais visitaram um simples banca de jornal na vida. São crianças que não possuem o hábito da leitura,porque seus pais também não o possuem. Ou que gostariam de adquirir revistas, mas não possuem dinheiro para comprar. A solução para alguns desses é conseguir emprestado na biblioteca da escola ou ir a uma banca que venda ou troque gibis usados. Um dos meus alunos começou a colecionar Tio Patinhas depois que apresentei quadrinhos Disney na escola.
O dono de um sebo que eu freqüento na região do ABC me disse que a procura por revistas em quadrinhos no estabelecimento dele é grande (não duvido, pois a loja dele foi ampliada e sempre tem gente comprando). Ele comentou que nos períodos de férias escolares aumenta o número de crianças que entram no sebo para comprar ou trocar quadrinhos, em geral mangás ou gibis do Maurício de Sousa.
O que estou escrevendo está muito longe de ser uma pesquisa de mercado, feita com metodologia. No entanto creio que os exemplos são significativos, pois citei como exemplos locais que não são os grandes centros e nem bancas ou lojas das capitais. Peguei como exemplo crianças de uma escola pública (onde estão matriculadas crianças com perfis mais diversificados do que numa escola particular onde estudam somente filhos da classe média alta) e um sebo popular numa cidade vizinha.
As crianças de hoje gostam de quadrinhos e outras mais podem gostar. Basta apresentar a elas. Doe aquele gibi que você não quer mais para a biblioteca de uma escola ou dê de presente para seu sobrinho ou irmãozinho mais novo da sua namorada. Se tiver filhos, visite a banca de jornais com ele.
Precisamos de publicações com preços mais baixos, mais acessíveis para a maioria da população, mas sem perda na qualidade. Projeto gráfico e bom acabamento são indispensáveis para atrair o público, não se pode subestimar a inteligência dos jovens leitores. Não adianta nada baixar o preço de capa e colocar publicações com visual pobre e papel ruim. Quando o produto é ruim, o público não quer nem “de graça”.

Foto antiga de garotos ingleses lendo a última edição de uma publicação em quadrinhos