Sunday, December 25, 2005

AVENTURA, TERROR E FICÇÃO ou GAROTAS SEMINUAS, MONSTROS, BÁRBAROS E FUTURO PÓS-GUERRA NUCLEAR




A década de 1970, que é a década em que,coincidentemente, o autor deste blog nasceu, foi marcada por uma onda de revistas em quadrinhos de terror, ficção científica e histórias do gênero espada e magia. Nos Estados Unidos, essas revistas (magazines ou mags, como são chamadas lá) eram publicadas em formato maior, o mesmo de uma Time ou Newsweek, para serem vendidas como “revistas de gente grande” e fugir do Comics Code Authority, o órgão responsável pela censura nos gibis norte-americanos.

Entre as editoras que publicaram revistas com essas características, podemos destacar a Warren, que publicava as revistas Creepy, Eerie e Vampirella,a Skywald, cujas revistas imitavam as da Warren, e a própria Marvel. As revistas da Warren começaram a ser publicadas em meados e fins dos anos 60 do século XX, mas foi na década seguinte que esse tipo de revista virou moda e começou a ser publicada até pela poderosa Marvel. Sem dúvida, o trabalho dos editores (e também roteiristas) Archie Goodwin e Roy Thomas contribuiu muito para a qualidade dessas revistas. Goodwin trabalhou na Warren e na Marvel, Thomas trabalhou na Marvel, onde começou como assistente de Stan Lee.

Boa parte desse material foi publicado no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. O material da Warren foi publicado na saudosa revista Kripta, lançada pela RGE (Rio Gráfica e Editora, atual Editora Globo), que foi um sucesso na época, e na revista Shock, também lançada pela RGE, mas que não conseguiu repetir o sucesso de sua antecessora. O material da Marvel saiu em revistas de diferentes editoras: as histórias da Bizarre Adventures e Savage Tales saíram aqui nas revistas 3a Geração, da RGE, e Aventura e ficção, da Abril.
Vale lembrar que nos anos 1980, a Abril lançou a revista A espada selvagem de Conan, que foi um grande sucesso e trazia material originalmente publicado na Savage Sword of Conan,que também era publicado no fomato magazine com histórias "mais adultas" em preto e branco .

Outro título que a Marvel publicou seguindo esse mesmo padrão foi Planet of the Apes, que adaptava para os quadrinhos os filmes da série Planeta dos macacos. O material dessa revista chegou a ser publicado por aqui no gibi Planeta dos macacos,lançado pela Bloch Editores, mas em formatinho e com um colorido que prejudicava a arte original.

Um diferencial dessas revistas estava nas capas pintadas e no miolo em preto e branco. De vez em quando, era lançada alguma edição especial com histórias coloridas, mas isso era exceção, não a regra. Também havia revistas que alternavam numa mesma edição histórias coloridas e em preto e branco, caso da Epic Illustrated, lançada pela Marvel para competir com a revista Heavy Metal. Diferente das revistas em quadrinhos tradicionais, os comic books (como são chamados os gibis nos Estados Unidos) que possuem capas com desenhos a traço, as capas dessas comic magazines traziam pinturas produzidas por ilustradores prestigiados. Naquela época, os recursos da computação gráfica ainda não estavam disponíveis e os ilustradores criavam essas capas empregando técnicas de pintura a óleo, guache e aerógrafo. Dentre os ilustradores que produziram varas capas nesse período estavam Frank Frazetta, Boris Valejo e Earl Norem. A estética dessas capas tinha mais em comum com capas de discos de heavy metal, cartazes de cinema e capas de livros de literatura fantástica do que com capas de gibis. O trabalho desses ilustradores, especialmente de Frazetta, era criticado pelas puritanas feministas norte-americanas que consideravam machistas as imagens de mulheres sensuais seminuas. Fato que pouco ou nada prejudicou as vendas dessas revistas, cujo público, em sua maioria, era masculino e adorava as capas.

O interior dessas revistas trazia arte em preto e branco, o que ajudava a baratear os custos. O preto e branco abria novas possibilidades para os artistas mais habilidosos que exploravam ao máximo os seus conhecimentos de luz e sombra. Técnicas mais arrojadas de arte-final, empregando nanquim, bico de pena e pincéis, podiam ser encontradas nas páginas dessas revistas.

Além do trabalho de roteiristas e desenhistas norte-americanos, essas revistas também traziam o trabalho de vários artistas espanhóis e filipinos. Entre os espanhóis estavam José Ortiz e Luis Bermejo, que trabalhavam nas revistas da Warren. Entre os filipinos estavam Alfredo Alcala, Tony de Zuñiga e Nestor Redondo, que trabalhavam principalmente para as revistas da Marvel.

Os roteiros também merecem atenção. Nessas revistas, era comum histórias de terror e ficção científica abordarem temas como intolerância, corrida armamentista e destruição do meio ambiente. Reflexo da Guerra Fria e do período pós-Guerra do Vietnã.

O erotismo também era outro elemento presente em muitos desses quadrinhos, mas sempre de forma bem dosada, sem cair na pornografia. Isso se devia tanto ao fato de essas revistas serem dirigidas ao público adulto quanto à liberalização dos costumes ocorrida na década anterior com o movimento hippie.

Hoje, esses quadrinhos despertam nostalgia em quem os leu anos atrás e é uma pena que sejam desconhecidos pela maioria do público mais jovem. É uma pena. Pois eles tem muito a ensinar aos atuais criadores de quadrinhos. A arte dessas revistas era em média muito superior à de vários quadrinhos atuais. Prova de que revistas em preto e branco podem ser melhores do que revistas coloridas por computador. O trabalho dos roteiristas daquela época também tem muito a ensinar aos roteiristas de hoje: quadrinhos podem ser inteligentes e divertidos ao mesmo tempo. Infelizmente, muito do que hoje encontramos nas bancas não é uma coisa nem outra.


Túlio Vilela, formado em história pela USP, é professor da rede pública do estado de São Paulo e um dos autores do livro Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (Editora Contexto).

7 Comments:

At 5:46 PM, Blogger Unknown said...

[Sem dúvida, sou daquela geração que foi fissurada nestas HQ. Kripta, em primeiro, Shock e Vampirella (muita ficção científica de alta qualidade com terror e suspense); os desenhistas melhores. Muita saudadade, tanto que vasculho a web procurando sites que reproduzem aquelas histórias, mas tá difícil...]

 
At 1:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Aprendi muito

 
At 11:22 PM, Blogger John said...

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At 12:43 AM, Blogger Unknown said...

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At 5:33 AM, Anonymous Anonymous said...

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